“Os crimes coloniais: história e política da colonização das Américas”, evento orientado pelo professor de História do IFC Araquari, Marcelo Diana, reuniu estudantes e servidores do campus e problematizou a representação histórica da colonização europeia na América e, especialmente, os estereótipos e preconceitos culturais que a grande mídia, apoiada em uma narrativa oficial da história do Brasil, apoia-se para elaborar os seus discursos sobre as populações nativas.
Segundo fala de uma das equipes pertencente ao curso técnico de Informática, os sujeitos que se encontravam no território americano antes da chegada do colonizador europeu teve por longo tempo a sua identidade histórica construída a partir de valores etnocêntricos, ditados pelo homem branco, como por exemplo, a imagem de selvagens, primitivos, índios canibais e indolentes ao trabalho. Ainda hoje é popular o provérbio que classifica um mau trabalho como um “trabalho de índio”. A representação do nativo das Américas como o índio que vive nas selvas, de igual forma, reproduz o discurso de preconceito cultural, por pressupor que a identidade indígena deva permanecer restrita ao ambiente afastado das selvas, portanto, desejando impedir que os sujeitos que se identificam com a sua cultura indígena circulem ou acessem outros universos culturais e sociais, inclusive, nos centros urbanos, escolas e universidades.
Ainda, de acordo com uma das equipes, na história do Brasil poucos foram os momentos em que esta versão preconceituosa sobre o nativo das Américas foi problematizada. Nos últimos 30 anos, entretanto, esse tipo de representação negativa sobre os indígenas tem sido revisto por historiadores, sobretudo, apontando para a necessidade de se estudar e de se conhecer a história indígena como parte da história do Brasil. De acordo com o professor Marcelo Diana, a crítica histórica sobre a narrativa oficial da nossa história deslocaria, por exemplo, a ênfase nas abordagens em sala de aula sobre o período das grandes navegações e das “descobertas” de novas terras – ou invasões de territórios nativos – dos séculos XV e XVI, para uma reavaliação da história ensinada sobre este mesmo período a partir da perspectiva das culturas e sociedades nativas. Como ressaltou outra equipe, no Brasil estuda-se a respeito da história ocidental e das revoluções que deram origem às tradições europeias, porém, quase sempre se deixa de lado ou se delega para o esquecimento a história indígena tão importante na formação dos valores sociais e culturais do nosso país.
Outros aspectos, como a dominação cultural, por meio da catequese religiosa e da imposição linguística do português, segregou ainda mais as culturas nativas a um comportamento de extremo isolamento ou da sua incorporação social com perda violenta de identidades. Como abordado pela equipe do curso de Química, até o século XVIII se falava um conjunto maior de línguas no Brasil colonial; contudo, com a descoberta do ouro e o aumento no número de colonos portugueses que chegavam ao Brasil com sonhos de riqueza, a imposição do português como idioma social oficial eliminou a diversidade linguística baseada nas práticas de comunicação nativas. A difusão de novas doenças, bem como a exploração predatória da natureza, com a exportação de espécies silvestres e a introdução de fauna e flora estranhas, foram temas abordados pelas equipes do curso de Agropecuária que problematizaram não apenas o sujeito humano nesta história, como também o meio ambiente e o sujeito animal. O resultado positivo do evento assinala que os valores de diversidade, tolerância cultural e de inclusão social, construídos com base na alteridade e na relação com o Outro, podem ser aprendidos e difundidos por meio do conhecimento e da educação. Abaixo, a letra de rap feita originalmente por uma das equipes para o evento no campus.
“Descobrimento furado”
Compositores e intérpretes: Nicolas Vieira Train e Fernanda Kohn (2agro2)
1500 – 22 de abril
Descobrimento furado
Invasão do Brasil
Pedro Álvares Cabral
Em nome de Portugal
Tomou posse do Brasil
Rezou missa, partiu e tchau
Mas o “tchau” não era “adeus”
Voltou e trouxe mais dos seus
Andava por aqui, achando que era Deus
Mas espera aí, deixa eu te explicar
Aqui é a terra “onde se planta tudo dá”
E os indígenas que eram confiantes
Passaram mó perrengue
Objeto dos Bandeirantes
Que eram na verdade,
Andante, farsante, chocante
“Cambada” de arrogante
Começou o tempo de destruição
E os nativos trabalhando
Não ganhavam um tostão
Pensa na situação
Perseguição, traição
A famosa escravidão
Texto e imagens: Marcelo Diana